O Dia Que Eu Desabei

quarta-feira, 13 de novembro de 2019


Sabe quando o desgaste, o estresse e a depressão chegam num ponto em que a vontade maior é desistir de viver? Pois é... faz tempo que me sinto assim... O peso e as cobranças da maternidade e da casa parecem não ter fim, e quando não se tem ajuda e ninguém parece entender a extensão desse problema, as coisas só tendem a piorar...

Depois de muitos perrengues (que acho que não vem ao caso mencionar), mudamos mais uma vez em busca de paz, mas agora, seis meses depois, descobri que sou eu é quem ando incomodando e tirando a paz dos vizinhos.

Ian é o caçulinha dos 4, tem 2 anos e meio, é super inteligente e esperto, mas é elétrico, não sossega, ainda não fala quase nada, e sua forma de se comunicar e chamar atenção é gritando e chorando de forma excessiva, desesperada, pulando, correndo e pisando duro no chão, parece um furacão, e isso é muito, mas muito, irritante. Não consigo fazer nada em paz, pois um segundo que deixo de vigiar, lá está ele fazendo qualquer coisa que não se deve.

Não consigo me concentrar em nada, não consigo fazer nada direito, pois os gritos dele me põe louca, e acabo perdendo a paciência e me descontrolando junto, e pra não descer a mão em ninguém, eu grito, eu saio de perto por não saber e nem conseguir lidar, eu choro escondido no banheiro, mas a vontade mesmo era de sumir, de morrer pra acabar com isso.

Ao procurar ajuda pra ele, em busca de algum diagnóstico pra esse comportamento seguido de um possível tratamento pra amenizar as coisas, ele foi encaminhado pra um fono e um psicólogo, mas pra minha surpresa (e choque e tristeza) eu também sai da consulta dele com um encaminhamento pra terapia pra mim, pois o estado que me encontro é tão desesperador, estou tão a beira de um colapso, que se eu não tiver ajuda de um profissional, eu não sei o que vai ser de mim. Nem a médica soube explicar como aguentei esse tranco até agora. Pra mim, foi devastador uma pessoa que eu nunca vi na vida perceber que preciso de ajuda só pelo meu tom de voz, só de ver o quanto ando acabada e sem coragem pra nada, enquanto ninguém aqui de casa enxerga nem colabora.

Então, em meio a essa confusão, e a essa espera eterna de uma consulta pelo bendito SUS, recebi uma notificação da imobiliária que administra o apartamento que moramos de aluguel, me alertando de uma reclamação formal que receberam do condomínio sobre o excesso de barulho. "Crianças correndo, pulando e chorando depois das 23hs da noite". Quebrar as normas do condomínio vai contra o contrato, e isso pode ser um problema pra mim.

É claro que eu entendo que isso é um incômodo. Eu cansei de brigar pedindo sossego, e sabia que era questão de tempo até a coisa estourar. As pessoas trabalham o dia inteiro e a noite querem descansar em paz, e isso é impossível quando o filho "mal criado, mal educado, e solto" dos outros não deixa, né?

Então, diante disso, só pude confirmar que a reclamação procede, que os meus problemas não tem que afetar os outros, e que eu daria um jeito de resolver. E enquanto espero eternamente a bendita consulta, fico aqui, cada dia pior, cada vez mais nervosa e sem rumo, sem saber o que fazer. Mas agora, além de não me sentir em casa mais depois de saber que incomodo essas boas pessoas que não são nem um pouco obrigadas a terem empatia ou procurar saber o quê, de fato, está acontecendo, fico com a preocupação constante de pegar o menino no colo pra evitar que ele corra pra não fazer barulho, ou de tampar a boca dele cada vez que ele quiser chamar minha atenção, e me segurando pra não surtar, pra não cair dura, pra não fazer nenhuma besteira que vá deixar um trauma na penca toda pra sempre.

As pessoas têm direito ao sossego, claro que tem, não tiro a razão de ninguém. Eu também gostaria muito de ter paz e recuperar minha sanidade e minha vontade de viver, mas infelizmente, a fase não permite. Se eu pudesse, eu iria morar no meio do mato pra não precisar conviver com ninguém, mas enquanto não posso comprar um pedacinho de terra longe de tudo e de todos pra realizar meu sonho de sumir, só posso me recolher ao que sobrou de mim e tentar levar as coisas, antes que seja tarde demais. E seja o que Deus quiser.

Odeio expor minha vida, camuflo a desgraça com bom humor, e não sou de fazer textão, então, me desculpem se causei algum transtorno. Sei que aqui nao é o melhor lugar pra desabafos, mas, às vezes, lembro que escrever me ajuda a tirar um pouco do peso que carrego sozinha nessas minhas costas que doem.

Bom descanso pra vcs, tomem água, e não deixem seus filhos "soltos". A maternidade pode ser linda pra quem vê, mas nem sempre é pra quem vive.