Relato de Parto - Ian

sábado, 20 de maio de 2017



Ian veio pra ser o diferentão da família... Ia nascer em ano e mês ímpar pra quebrar a tradição da penquinha toda, então lá vamos nós.



Dia 16/05/17, comecei a sentir cólicas durante a tarde que não estavam ritmadas, mas estavam incomodando bastante. Pela minha "vasta experiência", mesmo sabendo que nenhuma gravidez é igual a outra, eu já comecei a sentir que não iria demorar muito até o pacotinho nascer. Avisei pra quem tinha que avisar e fui levando de boa o resto do dia já pensando que daqui a pouco eu teria que sair pra maternidade... Quando eu sentisse as contrações apertarem e o intervalo entre cada uma fosse de uns 5 minutos eu saía.

Não lembro mais o que o Edi estava fazendo pra não estar em casa, mas já liguei pro abençoado falando que era pra ele não demorar pra vir embora... Já deixei todo mundo de casa a postos e a noite ainda fui inventar de arrumar o cabelo pra não chegar lá parecendo uma louca descabelada, como se isso fosse adiantar alguma coisa...

Enfim, lá pelas 22hs terminei de ajeitar a piruca, fui conferir a malinha e ajeitei todos os documentos que precisava levar. Fui chamar minha mãe, que já tava dormindo, e enquanto ela trocava de roupa, eu fui terminar de arrumar. Minha vó também tava dormindo, então fui acordar ela pra avisar que eu tava saindo e qualquer novidade eu ligava. Lógico que a véia tomou um susto porque ela nem imaginava que eu já tava pronta e tão tranquila, e com contrações de 5 em 5 minutos. Tudo pronto, e lá vamos nós!

Chegamos no Sofia por volta das 23:30hs e não demorei muito pra ser atendida. As cólicas/contrações continuavam ritmadas mas, quando fizeram o maldito e dolorido toque, avisaram que a dilatação de 4cm ainda não era o bastante, que eu não poderia ser internada e que eu devia caminhar pra ajudar no trabalho de parto. A casa de parto não tinha vaga, a médica disse que só daria entrada com dilatação de 6cm, que era pra eu ficar andando e voltar as 3hrs da manhã pra ela me examinar de novo e ver o progresso.

E lá fui eu caminhar. Edi me fez companhia e, enquanto a gente andava em círculos pela entrada da maternidade, ele conferia um app que baixei no meu celular pra medir o tempo das contrações, que já estavam vindo de 4 em 4 minutos.

Lá pelas 2:30hrs eu já não aguentava mais andar, tudo doía, as contrações não pareciam avançar e nem diminuir o intervalo e eu, morta de frio, fui pra dentro do carro descansar um pouco. Porém, por ter interrompido o "exercício", as contrações começaram a ficar mais espaçadas, por volta de 7 minutos entre cada, mas o cansaço falou mais alto e esperei até as 3hrs pra voltar pra maternidade e chamar a médica pra um segundo exame. Mas a caminhada ajudou. Cheguei nos 6cm de dilatação e dei entrada naquela benção. Edi não quis entrar comigo como acompanhante, acho que por medo ou por achar que aquilo era "coisa de mulher", então minha mãe foi comigo.

Lá dentro eu encontrei com outras mães que também estavam em trabalho de parto, tentava conversar com elas pra distrair, mas a sala de pré-parto estava lotada, e ficar alí andando pelos corredores começou a me deixar agoniada, principalmente porque as contrações começaram a apertar, a dor começou a aumentar demais e ninguém aparecia pra me dar nenhum suporte. Minha mãe já começou a chamar as enfermeiras mas nenhuma delas parecia preocupada. Minha reação foi querer ir embora, mas sabia que não podia mais, não naquela altura do campeonato. Sai andando me espremendo de dor, procurando o Edi pra falar nem sei o que... Vi ele sentado na recepção, tentando cochilar, e quando cheguei mais perto eu só consegui chorar, então voltei pro corredor mas não conseguia ficar quieta. Eu tava sem lugar, sem posição, com vontade de fazer força mas tentando segurar a dor que já estava ficando insuportável. Até que uma das enfermeiras pra quem minha mãe foi reclamar apareceu e ela, enfim, me levou pra sala de parto. A demora foi porque a maternidade estava cheia demais, e não tinha o que fazer a não ser esperar os quartos serem liberados...

Quando entrei no quarto, me deram uma roupa e me orientaram a tomar um banho, mas foi aquela água quente bater nas minhas costas que a dor piorou instantaneamente. Eu não aguentava mais, sabia que tinha chegado a hora, sabia que eu tinha que fazer força, mas a dor era tanta que eu ainda tentava segurar. E quanto mais eu segurava, mais doía... Eu cheguei a implorar por uma anestesia, chorando feito criança, mas já não dava mais tempo... A única coisa que eu podia fazer era força pro Ian sair logo e aquele sofrimento acabar. E foi o que eu fiz... Deitei na cama e pensei "já que é pra doer então vamo acabar logo com isso", e fiz força... Eu gritava, aquele grito que saia lá das profundezas de mim, e sentia tudo queimar e rasgar. Não tinha enfermeira perto de mim, todas elas estavam em volta, observando de longe e esperando, e minha mãe, que tinha entrado junto comigo, estava num cantinho com as mãos encolhidas e chorando desesperada feito uma louca. Juro que fiquei com vontade de rir, mas a dor era maior e só continuei gritando.

Na segunda vez que fiz força eu senti um estouro. Era a bolsa. Sorte que não tinha ninguém perto de mim, senão teria tomado um banho esperto.
A dor era de matar, eu já estava exausta, esgotada, um caco humano, e a terceira vez que eu fosse fazer força tinha que ser a última...
Mesmo sem ninguém alí segurando minha mão, ou perto de mim pra aparar o Ian quando ele escapulisse, eu fui na fé. O grito foi tão alto que minha garganta ardeu, tanto que depois fiquei rouca, e a força foi tanta que a sensação era que eu estava virando do avesso, mas aquele peso que eu senti sair de mim foi impagável, o maior alívio da vida. Logo a enfermeira pegou o Ian entre minhas pernas e colocou ele em cima do meu peito, e lá estava aquele pacotinho pelancudo, com o olhinho aberto, curioso e sem chorar.

Ele derrubou minha teoria da lua mais do que maluca, mas não passou do dia 18, como eu já esperava desde o início. No dia 17/05/17, bem nessa data combinandinho que minha mãe apostou que ele nasceria, ele chegou. Às 6:10hs, pesando 2945gr e medindo 47cm.

O cordão umbilical só foi cortado depois de ter parado de pulsar, e quem cortou foi minha mãe, com aquela cara de que não acreditava no que tava acontecendo. Não demorou muito pra eu expulsar a placenta, mas depois da criança ter nascido a placenta foi fichinha e não doeu nada. Mas, minha alegria não durou muito. Tive lacerações e precisei levar alguns pontos... Não sei se a criatura era inexperiente ou o quê, mas o tanto de agulhada que levei pra anestesia local me fez ficar desesperada, imaginando que aquele sofrimento não ia ter fim nunca mais. Já comecei a chorar com as picadas doloridas e com o mal jeito da enfermeira em dar aqueles pontos. Não sei quanto tempo passou, mas uma das enfermeiras pediu pra eu levantar e tomar um banho pra dar uma enxaguada em toda aquela sujeira, suor, sangue e sei lá mais o que. Mas foi eu entrar debaixo da água que comecei a tremer, a trincar os dentes, a ficar com a palma das mãos irritadas e coçando sem parar... Tive reação alérgica à anestesia... Era só o que faltava, mesmo... A sensação de frio num calor daqueles foi assustadora, mas já fui vestindo minhas roupas pra sair logo dalí e ir praquele alojamento enorme cheio de recém paridas e seus filhotes. Chegando lá dei um jeito de deitar e me enfiar debaixo das cobertas. Ian tava embrulhadinho e coloquei ele pra mamar. É engraçado como a criança já nasce com instinto sabendo o que tem que fazer, né? Eu tava emocionada, mas cansada demais pra ficar alí babando em cima dele, eu precisava dormir, e de barriga pra baixo se possível, obrigada. Minha irmã chegou pra ficar com a gente, e o Edi e minha mãe foram pra casa descansar depois de terem passado a noite em claro nessa peleja. Foi ela que deu o primeiro banho do Ian inclusive.
Edi voltou a noite pra dormir comigo e minha irmã poder voltar pra casa dela. Durante a noite as enfermeiras vieram algumas vezes pra avaliar se tava tudo bem, pra me darem remédio pra dor e afins. Na manhã seguinte dei o segundo banho nele, e enquanto o Edi foi tirar a certidão de nascimento dele lá na maternidade mesmo, as enfermeiras fizeram os exames necessários, deram as primeiras vacinas e lá pelas 11hs da manhã já ganhamos alta pra #partir. Estávamos ótimos e só não saí saltitando porque senão ia arrebentar os pontos e eu ia ficar escangalhada feito uma louca.

Eu achei que por ser o quarto parto as coisas seriam mais fáceis (sabe de nada, inocente), só que não... Acho que o parto do Ian só não foi mais sofrido do que o da Vitória, viu... Começou tranquilo, foi apertando e ficando sofrido, eu achei que não ia dar conta, mas no final da história tudo deu certo, e é isso que importa.

Nenhum comentário

Postar um comentário