Relato de Parto - Vitória

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A gravidez da Vivi não foi nada fácil... Eu e o pai dela nos separamos quando estava grávida de 5 meses, tive depressão a ponto de fazer acompanhamento com psicóloga e psiquiatra, tomei remédio controlado pra me ajudar, fui afastada do trabalho, fora várias coisas que aconteceram que nem vale a pena comentar... Foi uma gravidez tumultuada, ponto.


Véspera de Natal... Dia 24 de Dezembro de 2010... 4hrs da manhã... Acordei morrendo de vontade de fazer xixi e com uma cólica muuuito chata. Fui correndo pro banheiro e quando sentei no vaso, meu nariz começou a sangrar de repente! Tudo a ver, né? o_O
Depois que eu fiz uns 20 litros de xixi, limpei e vi uma gosmela parecendo catarro no papel e já deduzi que aquilo fosse o tampão saindo aos poucos. Estranhei, pois não aconteceu isso no TP da Marina, mas como já sabia que aquilo era normal, então ok. Depois de ficar um tempão pelejando com meu nariz pra parar de sangrar, deitei de novo e dormi... Muito mal, mas dormi.
Não sei que horas levantei, deve ter sido umas 2hrs da tarde, mas sei que continuava com cólica, que ia e vinha. O tampão também continuava saindo aos pouquinhos sempre que ia no banheiro (e eu ia muito!).
Minha mãe já começou a ficar preocupada porque as dores não paravam e já começou a ligar pro povo avisando que se continuasse assim, ela ia me levar pro hospital.

Na época eu conversava com uma doula pois minha intenção era fugir de um parto como o da Marina, queria um parto natural ou humanizado, sem intervenções se possível, obrigada... Então, conversei com a Rebeca, a doula, no finado MSN (RIP), e falei o que tava acontecendo, o que eu tava sentindo, e ela falou que eu não precisava preocupar porque o tampão depois que saísse podia demorar dias até que o trabalho de parto começasse de fato. Mas lá no fundo eu sentia que a Vitória tava a caminho...
Minha mãe começou a adiantar o rango de natal... Eu tava tranquila, fui tomar banho, troquei de roupa, passei maquiagem de leve, olhei a malinha de novo pra ver se tava tudo lá. Acho que lá pras 22:30 o rango ficou pronto. Lógico que eu comi primeiro senão ia ter que levar uma marmitinha pra maternidade.

A cólica começou a apertar mais e já tava vindo de 10 em 10 minutos. Parecia um despertador. Queria ir pro Sofia Feldman, mas minha mãe brigou, disse que lá era um açougue e que se eu tinha plano de saúde que eu tinha que ir pro hospital do plano e não ir pro SUS ser tratada igual bicho.
E lá fui eu pro hospital da Unimed... Ainda avisei que não ia entrar com a mala, porque se fosse alarme falso, não ia ter que ficar carregando nada.
Cheguei lá quase meia noite. O médico veio me examinar, prestou atenção nas contrações, mediu tempo, ouviu o coraçãozinho da Vitória, ficou mexendo na minha barriga e depois veio fazer aquele maldito toque. Depois sentou na cadeirinha e ficou lá, anotando as coisas... Perguntei que que tava acontecendo, se ela tava encaixada, se tinha dilatação, que que ia ser de mim e tal. Ele falou que eu tava de 3 pra 4cm de dilatação, e que eu ia ter que ficar internada.
Nossa, eu gelei até a alma. Sabia que era a pituca me cutucando e querendo sair.
Aí minha mãe foi preencher e assinar aquela montanha de papel da internação e me levaram pra sala de pré-parto. Cheguei lá, fiquei deitada esperando, e as contrações continuavam indo e vindo, nesse tempo de mais ou menos 10 minutos ainda.

De vez em quando eu levantava, andava um pouco pra lá e pra cá, fuçava nas coisas na sala, fuçava na minha ficha e na ficha dos outros que tava lá, e ia fazer xixi toda hora.
Minha mãe começou a ficar nervosa e só pensava em cigarro... E ia lá embaixo onde minha irmã tava esperando pra fumar.
Eu tava morrendo de sede, mas ninguém me deixava beber água, falando que eu tinha que ficar de jejum. E quando falaram que eu não podia, aí que me deu mais vontade ainda. Minha boca parecia que ia espumar de tão seca. Que raio de lugar é esse que impedem alguém de beber uma simples água, gente?

Depois minha mãe voltou e começou a contar altas bobagens, e eu naquela crise de riso. Achava que eu em trabalho de parto daquele jeito era o que tinha de melhor. Tranquila, com contração leve... doía, mas era beeeem suportável, e rindo que nem besta na maior altura.
Não sei quantas horas eram, mas minha mãe começou a reclamar que queria dormir, mas como não podia deitar na cama, foi deitar nos banquinhos do lado de fora da sala, e enquanto ela cochilava, registrei o momento e fui andar pra ver se meu telefone dava sinal pra ligar pra alguém.

Fui parar atrás da recepção. Aí fui andando e andando e vi que o Edi tava lá na entrada conversando com minha irmã... Fiquei muito fula da vida... A gente não tava junto mais e eu nem queria que ele estivesse presente naquele momento. Só pedi pra minha irmã dar um jeito de me dar água e saí dalí pra evitar a fadiga. Voltei pro quarto, tomei um banho e de repente arrumei uma suadeira que só Jesus...
Aí as contrações começaram a vir daquele jeito... Tavam de 5 em 5 minutos. E como já tava doendo beeem mais, minha mãe saiu pra procurar a enfermeira, que tinha ido chamar o médico pra ver como tavam as coisas.
Apareceu um médico mais ignorante, com a cara amassada e tudo... O idiota não devia tá muito satisfeito de fazer plantão no natal e achou que podia me tratar de qualquer jeito.
Só sei que ele foi muito grosso comigo, veio fazer aquele toque infernal e o negócio doeu mais que tudo nesse mundo. Comecei a subir pela cama pedindo pra ele ir devagar, mas ele me mandava ficar relaxada e quieta senão não tinha como ver. Mas como a gente relaxa sentindo dor? Só sei que desgramei a chorar que nem criança, enquanto ele falava com a enfermeira "ninguém merece", como se ele tivesse alí me fazendo um favor, de graça... Nossa, que ódio que fiquei daquele cara...
Ele falou que tava com 4cm ainda, saiu da sala e me largou lá, naquele sofrimento.
Eu só sei que depois desse toque, as contrações começaram a vir com mais frequência e muuuito mais doloridas. Eu não tinha lugar naquela cama... Não achava posição que prestasse. Eu ficava em pé, sentava, deitava, ficava de quatro, agachava, e chorava, pedia pelo amor de Deus, não aguentava mais aquilo. E minha mãe, começou a desesperar e começou a chorar também.
E o pior, era que eu lá, chorando, gritando, gemendo de dor, morrendo de sede, e não aparecia uma alma pra ver o que tava acontecendo... Aí que eu senti que eu tava alí jogada as traças e que se acontecesse alguma coisa ninguém ia me socorrer. Fiquei com medo, apavorada, achei que ia morrer. Um exagero eu sei, mas pra quem passou a gravidez toda deprimida e com aquele sentimento de abandono, passar por isso desse jeito era a pior coisa que podia me acontecer ali...

Quando deu umas 5:30 da manhã, eu já gritando e chorando que nem uma doida desvairada de tanta dor, a enfermeira resolveu chamar aquele médico imbecil, que veio com aquela cara de cu me enfiar o mãozão de novo. Eu que já tava chorando, pedi pra ele ir devagar porque tava doendo demais, e, como as contrações estavam vindo de 2 em 2 minutos, eu não conseguia relaxar nem com reza braba.
Mas foi a mesma coisa que falar com um poste. O bruto, naquela ignorância, me examinou e eu gritei de dor. Pelo menos já tava com 6cm de dilatação e ele falou que agora eu podia ir pra sala de parto tomar a anestesia pra aliviar.
E fui, chorando, claro... Clamando pela anestesia igual alguém clamando por água no deserto.
Chegando na sala de parto, a enfermeira, que era a mais boazinha e paciente do mundo, começou a conversar comigo, pedindo pra eu ficar calma, que ia dar tudo certo, falando pra eu fazer força quando sentisse que a contração tava vindo que isso ajudava, segurou na minha mão e falou que ia me colocar no soro enquanto o anestesista vinha.

Colocou aquele cateter, ou sei lá o nome daquilo, na minha mão com o maior jeito pra não doer muito, colocou o negócio de medir pressão, saiu colocando uma fiarada em mim pra medir batimento cardíaco e sei lá mais o quê, e eu fiquei lá, parecendo uma doida. O anestesista veio, e me enfiou a agulha coluna adentro e 5 minutos depois eu fiquei mole, e depois fiquei tremendo igual doida e toda coçando. Efeito da anestesia segundo a enfermeira... Já devia ser umas 6 e pouco da manhã.

Eu com a cara toda coçando, comecei a ficar nervosa, irritada, impaciente e queria arrancar aquela fiarada de mim e jogar longe. Mesmo sem sentir dor mais, eu sentia quando vinha a contração e sempre fazia força. As contrações já tavam vindo uma atrás da outra, sem intervalos.
O médico vinha, olhava como tava a dilatação, monitorava o batimento do coraçãozinho da Vitória, e falava que não tava na hora ainda. Ele ainda teve que estourar a bolsa, que não estourou sozinha nem a porrete. Aí ele simplesmente saía da sala e voltava quando queria...
A enfermeira boazinha teve que ir embora e eu fiquei desesperada, porque minha mãe, apesar de estar lá do meu lado, não podia fazer nada, e ela também tava tão nervosa que não sabia o que fazer também.
Quando deu 7hrs da manhã, o efeito da anestesia começou a passar, e eu já voltei a sentir aquela dor horrorosa das contrações. O médico ignorante deve ter ido embora também, sem aviso nem nada, ou ido atender outra pessoa, ou ido dormir, ou sei lá, e o primeiro médico que me examinou quando cheguei no hospital, veio terminar o serviço... Ele chegou perguntando como estavam as coisas, falei que tava doendo muito, e ele falou que a dor lá embaixo não sumia por completo e que era normal... Muito normal a anestesia passar e ele usar essa desculpa...
E eu naquele desespero, comecei a gemer de dor outra vez... E esse médico, igual o outro, ficava saindo da sala toda hora também. Ele me examinou, falou que a dilatação já tava em quase 10cm, e que ia depender de mim, que eu precisava fazer força pra ajudar... E depois disso, saiu da sala...

Aí que o negócio ficou feio... Comecei a fazer aquela força mais horrorosa do mundo, a anestesia tinha passado de vez, e eu senti como se a pirikita tivesse pegando fogo. Aí, não sei pra quê fui fazer isso, mas coloquei a mão lá pra sentir, e senti aquele volumão aumentando... Era a cabeça da Vitória saindo, meu Deus do céu...
Aí soltei aquele grito, a enfermeira olhou pra trás e saiu correndo atrás do médico pra chamar ele, gritando que tava nascendo... O psicopata do médico veio no desespero vestindo a roupa de qualquer jeito e catando a menina no ar, sem luva nem nada, porque nem tempo de colocar ele teve...
Então eu ouvi aquele chorinho mais gostoso do mundo, queria ver ela, queria ver o que tavam fazendo com ela, mas não consegui, só vi quando o médico pegou ela e levantou pra me mostrar rápido, e eu vi aquela bundinha cor de rosa.
Uma outra enfermeira, ou pediatra, ou sei lá quem era aquela mulher, colocou a Vivi na mesinha do lado, limpou ela, colocou ela em cima de mim quase de cabeça pra baixo de um jeito que eu não consegui ver nada direito. Tentei ajeitar, mas aquela fiarada atrapalhou. Levaram ela pro berçário pra terminar de limpar, vestir roupinha e tudo, e o médico pediu a enfermeira pra ela levar uma anestesia pra ele dar alí e dar os pontos. Diz ele que fez a episiotomia, mas eu não vi, não senti, nem nada.
Ainda senti aquelas agulhadas da anestesia, e depois que já não tava doendo mais, senti as puxadas dos pontos que o médico dava. Aí me levaram pra uma salinha de espera. Minha mãe veio pra perto de mim falar que viu ela no berçário, e que a minha irmã e o Edi tavam olhando ela pelo vidro, bem bobos... E falou que ela era linda...


Vitória nasceu dia 25 de dezembro de 2010, às 7:23 da manhã, com 2875gr, 49cm, apgar 9/9, e rosa, depois de todo aquele sofrimento que passei, em pleno Natal!

Depois de esperar uns minutos, uma enfermeira veio espremer minha barriga pra sair o resto do sangue que fica. Nossa que coisa nojenta e dolorida... Sério que devia ter um jeito menos terrível daquilo tudo sair... Depois disso, trouxeram a Vivi, colocaram ela deitada do meu lado e a menina já começou a procurar peito. E mamou toda feliz. Depois de uma meia hora alí mofando, me levaram pro quarto. Minha mãe, minha irmã e o Edi foram junto. Depois, as duas foram embora porque minha vó tava vindo ficar comigo.
Eu tava morta de cansada, acabada, exausta, destruida e descabelada... só queria dormir, mas quem disse que eu conseguia? E quando eu conseguia cochilar, ou alguém entrava no quarto pra me trazer algum remédio, ou alguém me ligava pra me encher o saco.
Minha vó e o Edi ficaram lá comigo, um mais babão que o outro em cima da menina....
Depois do horário de visita, fiquei lá sozinha porque não podia ficar acompanhante, mas foi tranquilo apesar disso.
Dia 26, me deram alta de manhã e pude ir embora pra casa, graças a Deus... já tava ficando doida de ter que ficar naquele hospital mais um minuto, pensando que aqueles médicos cretinos me trataram mal sem mais nem menos.

Enfim... Não gostei do parto, achei que foi muito sofrido, não me trataram bem... Achei um absurdo aquele hospital.. e isso porque é particular... Se eu soubesse que ia ser assim, teria ido pra maternidade do SUS... pelo menos ia sofrer de graça ao invés de ter que pagar pra sentir dor e ser tratada como lixo. Reclamei, claro, mas depois de ficar namorando aquela carinha redonda, esqueci tudo de ruim...

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